Entre as Rosas
Era final de inverno... Mais um ano havia passado e não se chegara a nenhuma conclusão. Os partidários das diversas facções, dia após dia, perdiam-se em longas e intermináveis discussões sobre esta ou aquela candidata, sem chegarem a um consenso. Decantava-se a beleza da papoula, as qualidades das alfazemas, o perfume dos cravos, as virtudes de pureza e humildade de lírios e violetas. Tudo em vão... Num canto despretensioso do mundo, onde as espécies vegetais cresciam silenciosamente, um pequeno arbusto travava sua luta diária pela sobrevivência, alheio a toda sorte de discussões. Conformada com sua forma tosca, retorcida, prenhe de espinhos pontiagudos e consciente de que nunca alcançaria a beleza de um dente-de-leão, acostumara-se a ser desprezado e humilhado, sem, no entanto, deixar de prestar atenção nas pequenas criaturas que dependiam de sua existência para sobreviver. A elas dedicava a sua vida, emprestando a segurança de seu tronco e ramos para abrigar insetos das chuvas e ventanias. Era feliz, pois, se não tinha a beleza, tinha a utilidade, e isso lhe bastava. Naquela manhã fria de final de invernia, ainda não totalmente desperta da noite, a plantinha rude viu despregar do céu uma linda estrela cor de prata. Sorrindo, acompanhou-lhe a trajetória em arco perfeito pelo céu escuro, descendo, descendo... Em direção à floresta ainda adormecida. Era tão suave e linda aquela forma, que, instintivamente, todos na floresta, árvores, arbustos, pássaros e flores, acordados pela luz repentina, curvavam-se para vê-la passar. A estrela flutuou entre sorrisos, agradecendo a simpatia da floresta, até chegar perto do arbusto cheio de espinhos. Aproximou-se lentamente da plantinha e falou-lhe docemente:
E partiram em um rastro de luz, na direção do conselho das flores. As demais candidatas riram-se da pretensiosa intenção daquele feio arbusto. A platéia silenciou quando entrou no ambiente a primavera, anunciada pelo som de mil clarins. O arbusto, espantado, reconheceu a estrela que a trouxera até ali.
A primavera voltou-se para a plantinha que chorava de vergonha e humilhação e perguntou:
E a planta respondeu entre lágrimas...:
A primavera, então, tocou os galhos espinhosos e, logo, botões surgiram dos galhos seminus, abrindo-se em mil pétalas sedosas, de perfume inesquecível...
|
|